quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Necessidades


Eu preciso de amor, de carinho, de sapatos,
Eu preciso de um relógio, algumas roupas, de um abraço,
Eu preciso de um carro novo, não me serve mais o antigo sonho,
Eu preciso de uma cara nova, vou trocar os meus espelhos?
Eu preciso de dinheiro, soube que há brechós de conselhos,
Eu preciso comprar uns CDs, um elefante de cera, uma maçã,
Eu preciso de tanta coisa, de Portinaris, de Saint Laurent,
Preciso de alguns enlatados, alguns importados, algum corissant,
Também preciso comprar uns amigos, mas as lojas andam tão vazias,
Vou esperar a próxima liquidação.
Eu preciso fumar um cigarro, estou liquidado.
São tantas necessidades que já não sei onde vão caber,
Os sapatos, os abraços, os elefantes de cera e os Cds,
Ficam todos encaixotados ou empilhados no meu AP.
Quando finalmente decidi parar de comprar,
Descobri que eu mesmo também estava à venda.
Fui comprado.               

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

sábado, 6 de dezembro de 2014




 Travessia 

Segura minha mão, mesmo que fria,
Deita em minha cama, ainda que chão,
Ferve no meu corpo, mesmo que morno,
Descobre o meu sim, desdobra o não,
Delira em meu verso, mesmo que confuso,
Decifra o meu latim, ainda que obtuso,
Canta pra mim, amacia meu semblante duro,
Persiste na esquina, ainda que esteja escuro,
Pula a janela, mesmo que haja muro,
Navega em meu mar, aceita o mistério,
Abre a cancela, pousa em meu ninho,
Passeia em meu vento, roda o moinho,
Desvele o segredo, deixa fluir,
Não tema se houver ventania,
E se houver redemoinho, pode cair,
É travessia.


Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014


Voltar-se a si. ( Sobre meninos e outras esquinas).
E de repente ele correu, mas correu pra longe e
Chegou a um local onde jamais pensou que alcançaria.
Atravessou labirintos, precipícios e esquinas.
Deu mil voltas no infinito e desembocou ao mais longínquo que um homem pode chegar: dento de si. Enebriou-se de tanto ser e finalmente conseguiu descansar.
Chegou, enfim, ao seu lugar.




Desculpem, meus queridos e queridas, o sumiço temporário.

Deixamo-nos guiar ao sabor do acaso e nos perdemos nele. Encontramos na suposta falta de tempo as desculpas para nossas omissões. Escrever continua a ser minha bússola biruta. Tão indecisa, porém precisa.

Prometo que retomarei o Blog e escreverei com mais frequência. Agradeço a todos os que, volta e meia, vêm aqui me fazer uma visitinha. A casa é sua. Pode entrar sem bater.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sede

Tenho sede
Que só sacia  com a nascente
Que desagua da tua boca,
Por isso bebo a ti em goles fartos,
Para que a intermitência do beijo
Perdure no gosto
De água perene,
Que se renova a todo instante,
Tal qual o perfume do amante
Que evapora no tempo certo...

E traz a chuva para o meu ser tão,
Desperta a semente adormecida no chão,
Faz-se oásis onde era deserto.


Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Rabisco - Sobre o amor e outras guerras

Resolvi transmutar meu amor ao papel,
Descrevi teu sorriso
Mas não coube na rima.
Decidi, então, desvendar o teu véu
Mas o sol não se abriu
E a inspiração ficou cinza.
Pensei, pensei e ensaiei um Cordel,
Uma construção simples e com a inquietude subentendida,
Mas a poesia se perdeu,
Percorreu cada linha,
E continuou perdida.
Enquanto o amor germinava, eu o escrevia.
O amor desabrochava, mas eu não o entendia.
Cheguei a rasgar algumas páginas
Mas riscava cada verso que fazia,
Pois não gostava.
Pois não mais cabia.
Até que um ilustre dia,
Fatídico,
Escrevi um romance
Ininteligível,
Desbravei as palavras,
Desvelei os teus signos,
Mas enfim fiz um traço
E apaguei sem vestígios.
Decidi compor um samba canção
Mas o teu violão
Não acompanhava meu ritmo.
Foi assim que a palavra percorreu o vão das nossas maõs,
E do amor que era tão
Sobrou apenas um rabisco.

Queridos amigos, obrigado por terem me recepcionado de forma tão gentil e carinhosa. Que as palavras nunca se percam. E que nunca nos falte inspiração.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A ave


Certa feita avistei uma ave,
Majestosa, imponente e envolta em um grande mistério,
Um anjo torto caído do céu.
Questionei-me, de logo, o sentido de ter asas,
Será mesmo bom ter tamanha liberdade?
Lembrei que também eu, outrora, as tive.
Dia após dia elas eram cuidadosamente aparadas,
Até que resolvi extirpá-las por completo.
Desaprendi a voar,
Fiquei inerte com o peso das dores e das responsabilidades,
Atônito com o império das horas,
E então, após tantos anos de desassossego,
Tranquei-me em uma grande gaiola.
A ave me trouxe de volta à esperança,
Mesmo ali, abatida pela crueldade humana,
Ela era livre
E, seu último suspiro rumo ao chão
Foi como um ilustre passo de dança.
Vê-la voar, ainda que rumo à morte, 
Trouxe-me de volta à vida.
Quando dei por mim
Um grande par de asas brotou das minhas costas.
Uma lágrima molhou o largo sorriso,
E eu voei.

Este poema é dedicado à peça "A ave", um solo de Agamenon de Abreu com direção de Rino Carvalho. Fiz a crítica em forma de poema, pois o espetáculo é um convite à poesia. A ave nos remete a uma inexorável reflexão sobre o que fazemos com nossas horas. A ave nos relembra que ainda sabemos voar, precisamos apenas deixar que as asas cresçam. A trilha sonora é impecável, o roteiro é bastante conciso, sem perder a leveza e a atuação é surpreendente. De repente, após o espetáculo, um par de asas brotou no meio das minhas costas. E eu voei. Venha voar também. Avoa.

Mais informações sobre a peça na página: https://www.facebook.com/events/278485735629075/?fref=ts

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Poema do desencontro - Sobre o amor e outras guerras.



O que se via era uma pausa,
Um sol que alumiava o quarto tal qual a luz acesa,
Procuravas uma cachaça para encher teu copo vazio,
Encontravas um bordel para curar tua tristeza.
E era triste ver o moço debruçado no vão dos teus nãos,
Nos abraços apertados que se tornavam poeira,
Na procura inesperada dos teus momentos de solidão,
Nos atalhos percorridos até tua boca tão alheia.
Houve um bom encontro, lá bem longe, quase nem se lembra.
Naquele tempo em que havia poesia
Mas ninguém desvelava o poema.
E a prosa sem rima não resistiu ao desejo de entender,
O que não pode ser entendido
Mas sentido, apenas.


Meus caros leitores, agradeço imensamente os pedidos para que eu reativasse o Blog e dessa vez voltei para ficar. Espero que continuem a vir e, já sabem, podem entrar sem bater. A casa é também vossa.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

    
     Até

Vou dar um tempo,
Aportar em outro cais,
Embriagar-me de madrugada,
Adeus, jamais.
Vou dançar em outro baile,
Andar pela tarde,
De samba em samba,
Sambar a saudade.
E quem sabe amanhã
Essa manha que afasta,
Venha desnuda
Com a boca vermelha,
Com o gosto do beijo,
Carnuda.
E esse brilho do olhar
Ao olhar para o nada,
Voltará a brilhar,
Alvorada.
Deixo-te agora,
Sem aceno ou veneno,
Sem palavras ensaiadas,
Sem sereno.
Deixo-te ao mundo que sempre foi teu.
Sem mais.
Sem ais.
Sem eu.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

segunda-feira, 9 de julho de 2012


Encontro in (esperado)

Olhares que se cruzaram entre os feixes de luz,
Um lance, um terremoto, um encontro.
E entre relutâncias e reticências anônimas,
As bocas se fundiram em meio à multidão.
Foi um devastamento de pudores e continências,
Um arrebatamento que preenche todo o vazio.
Foi carne exposta, peito aberto e sorriso largo,
Foi língua nua,
Foi lar e rua,
Foi cio.
Foi a entrega inesperada e esperada.
Foi o tapa na cara de um passado frio.
Foi furor e fervor e paz desarmada.
Foi delírio e desejo e o medo vil.
Um encontro de dois que em tantos se fez.
Um encanto de faz de conta.

Um poema moderno e careta,
Uma carta na mesa,
Um labirinto de dúvidas,
Uma certeza.

( Uma homenagem aos encontros in(esperados) pela vida afora...)

Beijo pra quem é de beijo.

Abraço pra quem é de abraço!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Faz chover






São palavras tangentes,
Vez em quando miram certo,
Marcadamente inesperadas,
Tal qual teu olhar deserto
Repleto de oásis.
São sutis devaneios,
Vez em quando acertam em cheio,
Mas se perdem no vão das mãos
Quando não se tocam.
São fragmentos de memórias,
Tinta fresca que não seca,
E marca minha roupa com suas cores.
Faz chover nesse olhar.
Mostra as linhas inequívocas das mãos.
Antes que a tinta seque.


Meus queridos leitores e minhas queridas leitoras. Mil perdões pelo sumiço do Blog. Foram dias de elocubrações intensas e de devaneios imprecisos. Agora estou pronto para retomar o curso. Obrigado por continuarem acompanhando o Blog e, dessa vez, volto para ficar. Sejam bem vindos e, claro, podem entrar sem bater. Vamos fazer esse vórtice de palavras girar novamente.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.